quarta-feira, 9 de março de 2011

Objectivo

Neste ano de 2011 comemoram-se os últimos acontecimentos relativos às três invasões francesas de Portugal. Há a tendência para esquecer que as tropas francesas voltaram a cruzar a fronteira portuguesa em 1812. Mas isso será lembrado mais tarde. O objectivo deste espaço é evocar os acontecimentos da Guerra Peninsular, fora do território português, em que tenham participado tropas portuguesas. É um período histórico que começa em 1811, quando Massena tentou novamente entrar em Portugal, e se prolonga até 1814, com a rendição das forças francesas. Trata-se de um conjunto de acontecimentos que se desenrolam na Península Ibérica e em França e são, em geral, desconhecidos do público português. Paralelamente ao que aqui for escrito, publicarei na Wikipédia a descrição mais detalhada das batalhas e combates, à medida que sobre elas passarem os 200 anos.


O Exército e as Invasões

Em 1807, antes de embarcar em direcção ao Brasil, o Príncipe Regente, futuro D. João VI, deu ordens para que não fosse executada nenhuma acção armada de oposição ao exército invasor. Junot entrou em Lisboa a 30 de Novembro desse ano, acompanhado de uma pequena força de aproximadamente 1.500 homens que se apresentavam num estado deplorável após uma longa marcha de cerca de 1.000 Km. As restantes tropas francesas foram chegando a Lisboa nos dias seguintes.




Gravura mostrando a entrada das tropas francesas em Lisboa. 
(Arquivo Histórico Militar 
PT-AHM-FE-10-A7-PQ-17)












Uma das medidas que Junot acautelou nos primeiros tempos do seu “reinado”, durante a Primeira Invasão Francesa, foi a de retirar a Portugal a possibilidade de levantar, por si só, uma força armada minimamente credível. E fez isto da seguinte forma: escolheu as melhores tropas e criou a Legião Portuguesa que foi enviada para França, desmobilizou a maior parte do que restou do Exército (a Armada estava quase toda a caminho do Brasil) e iniciou um processo de destruição do armamento português. Portugal ficava, desta forma, quase totalmente desarmado.

Quando, em 1808, a insurreição tem início no Norte e se estende ao resto do País, convocam-se às suas anteriores unidades aqueles que Junot tinha desmobilizado e inicia-se o processo de reconstrução do Exército Português. Mas não é num mês ou dois, sem recursos financeiros, sem armas e equipamentos, que se levanta um exército e, por isso, o corpo de tropas comandado por Bernardim Freire de Andrade que marcha ao encontro da força expedicionária britânica desembarcada na praia de Lavos, a sul da Figueira da Foz, está longe de se parecer com um exército europeu. Assim, o Combate da Roliça e a Batalha do Vimeiro são vitórias com fraca participação portuguesa.

Sir Arthur Wellesley retratado por Goya

Expulso o exército invasor (será melhor dizer: cordialmente transportados até França, nos termos da Convenção de Sintra), era necessário, com urgência, reorganizar o Exército pois não havia dúvidas que Napoleão não desistiria facilmente de dominar Portugal. Com a ajuda britânica conseguiram-se muitos dos recursos que o País não estava em condições de produzir mas depressa se concluiu que, para além dos recursos financeiros e materiais, era necessário um chefe militar à altura de tão difícil tarefa. William Carr Beresford foi enviado para Portugal onde assumiu o cargo de comandante do Exército Português.


William Carr Beresford, gravura a água-forte.


Segunda Invasão Francesa chegou ao Porto e, em breve, desembarcam em Lisboa tropas britânicas que, juntamente com o as unidades do Exército Português consideradas prontas para entrarem em acção, formaram o Exército de Wellington. No combate em Grijó as unidades portuguesas deram o primeiro sinal positivo, empenhando-se afincadamente nos combates que aí se travaram. Da vontade de expulsar o inimigo ninguém duvidava e, para verificar isso, basta conhecer a resistência que a população se dispôs a oferecer e os resultados que conseguiu quando enquadrada por oficiais de valor. Este foi caso da heróica resistência na Ponte de Amarante. Mas, para além dessa vontade de defender Portugal, era necessário estar preparado para fazê-lo e, também neste aspecto, estávamos dependentes da ajuda externa. Muitos oficiais e sargentos britânicos enquadraram os nossos soldados, o Porto foi libertado e Soult retirou para a Galiza.

Quando se deu a Terceira Invasão Francesa, Wellington pôs à prova os militares portugueses e, na Batalha do Buçaco, ficou provado que Portugal podia ter um exército capaz de actuar no campo de batalha, lado a lado com os melhores, cada dia mais apto a lembrar os feitos heróicos nas inúmeras batalhas que a História de Portugal já contava. Quando Massena retirou, após meses à espera do apoio que, julgava ele, viria de Espanha e lhe permitiria vencer a barreira das Linhas de Torres Vedras, o Exército Aliado perseguiu-o e no corpo de tropas que constituía a guarda avançada - o que primeiro entrava em contacto com o inimigo - as tropas portuguesas estiveram presentes e cumpriram bem a sua missão.

Mapa das Linhas de Torres Vedras

Por fim, após a Batalha do Sabugal, Massena retirou definitivamente de Portugal. Mas tinha em mente voltar e, logo que conseguiu reorganizar o seu exército, dirigiu-se novamente para a fronteira portuguesa onde, na praça de Almeida, uma guarnição francesa ainda resistia. Wellington começava a confiar mais nas tropas portuguesas que integravam o seu exército e, assim, podia contar com efectivos muito mais numerosos para enfrentar esta ameaça. No dia 3 de Maio de 1811, iniciava-se a Batalha de Fuentes de Oñoro, a primeira batalha em que as tropas portuguesas integradas no exército de Wellington travaram fora do território nacional.