A propósito do Combate de Arroyo de Molinos
No dia 28 de Outubro de 1811 registou-se o combate de Arroyo de Molinos sobre o qual foi, recentemente, publicado um artigo na Wikipédia. Há um aspecto desta operação militar que merece ser realçado: a marcha.
Como
podemos ver no artigo acima referido, a perseguição às tropas de
Girard começou a 22 de Outubro. Isto significa que a marcha
executada pelas tropas britânicas, portuguesas e espanholas, que
perseguiam, e as tropas francesas, que eram perseguidas, durou seis
dias. No primeiro dia os Aliados percorreram perto de 50 Km. No
último dia de marcha antes do combate (27 de Outubro), os Aliados
percorreram cerca de 45 Km. A maior parte do percurso foi feito
debaixo de chuva intensa. Para descansar, à noite, tinham o solo
molhado e embrulhavam-se nas suas mantas ou capotes encharcados.
Devemos
ter em atenção, antes de mais, que não estamos a falar de
militares fardados com uniformes adequados a um determinado clima,
protegendo-se com impermeáveis leves, calçando botas confortáveis
com sola de boa borracha, comendo rações de combate estudadas por
nutricionistas, etc. Estamos a falar de soldados que fardavam com
tecidos grosseiros e calçavam sapatos de sola e estavam,
normalmente, mal alimentados. Estavam habituados a uma vida dura? Sem
dúvida, mas isso apenas os preparava para suportar melhor as
situações difíceis por que passavam sem lhes aumentar a
resistência.
Na
época da Guerra Peninsular, as longas marchas eram a única forma de
transportar as tropas por terra. Se os rios eram navegáveis e se
existiam meios disponíveis, o percurso podia ser feito em
embarcações fluviais. Mas este meio apenas podia ser aplicado a um
número limitado de tropas. Era pois necessário preparar os soldados
para essas marchas.
Se
procurarmos nas Ordens do Dia de Beresford, encontramos algumas
referências a esse treino e à forma como as marchas deviam ser
executadas. As transcrições que a seguir se apresentam dão-nos uma
ideia das preocupações relativas a esta actividade. Vejamos então:
…
que
os Corpos de Infantaria além de se instruírem em exercícios, se
instruam também em marchas, para o que duas vezes cada semana de
manhã cedo sairão do seu Quartel, e marcharão até à distância
de légua e meia, e mesmo duas léguas, sem tocarem os tambores,
levando uma vanguarda, e uma retaguarda, e seguindo todas as mais
regras, e com a mesma exacção, como se estivessem próximos do
inimigo: e os Oficiais superiores obrigarão os Capitães a que
cumpram os seus deveres, e estes os seus Subalternos, e os Oficiais
Inferiores a cumprirem com os seus, e particularmente em fazerem que
os soldados marchem no seu lugar, e na melhor ordem, e será o
primeiro cuidado da retaguarda impedir que ninguém fique atrás.
O Illmo e Exmo Senhor Marechal Beresford, Comandante em Chefe do Exército, atendendo a que os Corpos de Infantaria estão presentemente chegados a um ponto de disciplina bastante avançado, Determina aos Senhores Comandantes de Brigadas e de Corpos, apliquem dois dias de cada semana para o exercício de marcha d’estrada, ao qual não faltará indivíduo algum, excepto Recrutas e Instrutores: Os Corpos se formarão para esta qualidade de exercício, preparados da mesma forma, e com bagagens e munições, como se pratica nas marchas, e marcharão até uma ou duas léguas de distância dos seus Quartéis, conforme julgarem conveniente os Senhores Comandantes. Durante a marcha os Soldados serão exercitados no modo de passar obstáculos, diminuindo e aumentando a frente das Divisões, e a formar em linha na marcha sobre a direita e sobre a esquerda, e sobre toda qualquer outra direcção. Os Corpos serão também instruídos na diferença que há de Coluna de marcha a Coluna de Manobra, e da necessidade de observar as regras da primeira, assim como, que para se executarem bem as manobras é preciso observarem as regras da segunda.
Ordena o Senhor Marechal, que daqui em diante Corpo algum de Infantaria marche do lugar, onde estiver de Quartel mesmo sendo para um lugar vizinho a fazer exercício, sem as suas vanguardas regulares, e que nas marchas acima determinadas os Senhores Comandantes façam conhecer o uso destas vanguardas, e retaguardas, e lhes ensinem a prática.
É contra a intenção do Senhor Marechal que as sobreditas marchas interrompam a instrução das Recrutas; só as devem fazer aqueles indivíduos que já estão instruídos no exercício, e que tem sido julgados capazes de entrarem nas fileiras, e deseja que nestas marchas não se obrigue o Soldado a ir de modo que lhe resulte absoluta fadiga: quatro ou cinco horas de marcha com meia hora de descanso não produzirá um tal efeito; porém a prudência dos Senhores Comandantes deve regular esta objecto, tendo eles atenção às circunstâncias em que se acharem os Corpos.
…
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