domingo, 15 de maio de 2011

Albuera, 16 de Maio de 1811

No dia 16 de Maio de 2011 comemora-se o bicentenário da Batalha de Albuera, a mais sangrenta das batalhas da Guerra Peninsular.

Beresford
Por decreto de 7 de Março de 1809, William Carr Beresford foi nomeado Marechal e Comandante em Chefe do Exército Português. Em pouco tempo, teria de transformar numa força de combate eficiente um exército que quase tinha deixado de existir devido às medidas tomadas por Junot durante a Primeira Invasão Francesa. Este foi, inegavelmente, um excelente trabalho realizado por Beresford. Basta ver o comportamento das tropas portuguesas e os resultados obtidos nas batalhas do Buçaco (27 de Setembro de 1810) e de Fuentes de Oñoro (3 a 5 de Maio de 1811).

Porém, o seu comportamento como comandante do Exército Aliado em Albuera foi alvo de críticas por parte de vários autores de obras sobre a Guerra Peninsular, muito em especial do militar e historiador William Francis Patrick Napier que também combateu na Península. Outros autores foram mais moderados e acabaram por criticar também o próprio Napier pela falta de objectividade com que apreciou a situação.


William Carr Beresford, 1º Visconde Beresford, 
1º Marquês de Campo Maior e 1º Conde de Trancoso. 
Quadro pintado por Sir William Beechey, 
National Portrait Gallery, Londres.

As críticas a Beresford, enquanto comandante militar em campanha, começaram por se referir à sua conduta nas operações durante a Segunda Invasão Francesa. Beresford mostrou-se retraído quando podia, numa atitude mais agressiva, ter entrado em Trás-os-Montes para enfrentar ou perseguir as tropas de Loison, eventualmente o exército de Soult se este conseguisse retirar por aquela região. Teria medo de avançar sem conhecer o comportamento das suas tropas, maioritariamente portugueses, sem qualquer experiência de combate cujas unidades tinham começado a ser reorganizadas há tão pouco tempo? Então que dizer do Brigadeiro Silveira que, com um corpo de tropas mal organizado e deficientemente armado, resistiu tanto tempo na defesa da linha do Tâmega e acabou em perseguidor das tropas de Loison? Defenitivamente, o comando de tropas em campanha não era o ponto forte de Beresford. A sua reputação não era alta entre os outros oficiais britânicos. Edward Pakenham considerava-o "um camarada inteligente mas sem qualidades para general; a sua ansiedade era demasiado grande ..." e, depois da batalha, um capelão escreveu: "Beresford parece ter-se comportado tão bem quanto os seus escassos talentos prometiam" (GLOVER, pp. 207 e 208).


Beresford a desarmar um lanceiro polaco durante a batalha.
Pintura de T. Sutherland, 1831


Nem tudo o que correu mal em Albuera pode ser imputado a Beresford. Os generais espanhóis Joachim Blake e Carlos de España concordaram em servir sob a direcção de Beresford mas não obedeceram prontamente às suas ordens. Michael Glover (p. 208) afirma que Beresford tinha levantado a hipótese de retirar e não oferecer batalha pois entendia que o cerco de Badajoz não tinha progredido o suficiente para justificar uma batalha que poderia acarretar perdas muito graves. O corpo de tropas à sua disposição era numericamente superior ao de Soult mas à custa de elevado número de tropas espanholas em que ele não confiava e de quatro brigadas de infantaria portuguesas, sem qualquer experiência de combate. Além disso, as tropas espanholas de Joachim Blake só chegaram ao flanco direito da posição de Beresford às primeiras horas da manhã do dia da batalha. Tinham demorado um tempo imenso a percorrer pouco mais que 10 Km e encontravam-se em grande confusão. Só ao nascer do dia foi possível colocá-los nas suas posições. Quando a batalha foi iniciada ainda não estavam completamente dispostos no terreno.

Foi exactamente sobre esse flanco que Soult lançou o esforço do ataque. Beresford, assim que compreendeu que a sua direita estava ameaçada, deu as ordens adequadas para controlar a situação. O que começou por correr mal foi o facto de Blake não cumprir essas ordens e, quando o fez, apenas movimentou parte das forças. Foi assim criada uma situação muito difícil que só não deu origem a uma derrota imediata dos Aliados porque as tropas espanholas sob o comando do General Zaya tiveram um excelente comportamento. A desobediência de Blake, no entanto, pôs esse esforço em causa e foi necessária a intervenção da 2ª Divisão que, por seu lado, também não foi bem executada, resultando daí numerosas baixas. Durante a batalha, quando a cavalaria polaca avançou, Beresford encontrava-se muito próximo da linha de combate e teve de se defender de um cavaleiro polaco. Mereceu o seguinte comentário de um oficial do seu estado-maior: "o nosso marechal expôs-se com bravura mas não deu ordens e os oficiais do seu estado-maior atuaram da forma que lhes pareceu melhor" (Muir, p. 153).







Batalha de Albuera, gravura de T. Sutherland, in
http://ab.dip-caceres.org/g_independencia/grab_mapas.htm


A Batalha de Albuera foi a última acção de campanha em que Beresford participou. Após a batalha, regressou à sua tarefa principal, a de reorganizar o Exército Português. Aqui foi, sem dúvida nenhuma, um oficial brilhante. O comando das forças anglo-portuguesas que actuavam no Sul de Portugal, quando Wellington não estava presente, passou para o General Sir Rowland Hill. Quando visitava os hospitais, depois de chegar a Badajoz, Wellington dirigiu-se a um grupo de feridos do 29th e disse-lhes: "Eu lamento ver tantos de vós aqui". Em resposta a essa observação ouviu de um deles: "My Lord, se estivesse estado connosco, não estariam tantos de nós aqui" (Glover, p. 238).

O primeiro contacto com os Uhlans do Vístula

A Península Ibérica não é um bom terreno para a cavalaria. O exército de Wellington actuou em apenas duas regiões onde é possível manobrar grandes corpos de cavalaria: os planaltos entre Ciudad Rodrigo e Burgos e os planaltos da Estremadura, entre Badajoz e Sierra Morena. Não só o terreno não era apropriado para este tipo de unidades como o clima e o sistema de abastecimento disponível tornavam difícil manter os cavalos, o que provocava entre estes numerosas baixas mesmo fora das acções militares.



Lanceiro do Vístula em acção, in


Albuera situa-se numa dessas regiões mais favoráveis ao emprego da cavalaria. O Exército Aliado dispunha de cavalaria na proporção de 11% do total das suas tropas e Soult dispunha de 16%. Em Fuentes de Oñoro Wellington tinha 5% de cavalaria e Massena tinha 6%. Em Austerlitz, na Europa Central, a cavalaria francesa representava 30% das forças de Napoleão enquanto os Aliados dispunham de 24%. Quando Massena invadiu Portugal, em 1810, o seu exército dispunha de 13% de cavalaria a qual nunca conseguiu utilizar em todas as suas possibilidades.

Entre as unidades de cavalaria que Soult utilizou em Albuera encontravam-se os Uhlans do Vístula, lanceiros polacos ao serviço de Napoleão. Este ficou de tal forma bem impressionado com o desempenho daquelas unidades que, em 1811, deu ordens para seis regimentos de dragões adoptarem a lança. Este tipo de cavalaria, que tinha caído em desuso na Europa Ocidental entre os séculos XVII e XVIII, reviveu inesperadamente e manteve-se até ao fim do século XIX.


Soldado britânico atacado por um Uhlan
in
http://forum.axishistory.com/viewtopic.php?t=17888



Quando a 2ª Divisão avançou, em Albuera, para apoiar as tropas espanholas do General Zaya, utilizava o dispositivo em linha e não protegeu os seus flancos utilizando aí os batalhões em coluna. A Brigada de Colborne avançou contra uma coluna francesa que se encontrava empenhada contra as tropas espanholas. Desprotegidos foram objecto do ataque de uma brigada de cavalaria francesa que não perdeu a oportunidade de carregar sobre um alvo desprotegido. Dessa brigada fazia parte um regimento de lanceiros polacos. A força de cavalaria francesa não foi detectada a tempo devido à chuva intensa que então caía, os batalhões não adoptaram a formação adequada para se defenderem da cavalaria, isto é, não formaram em quadrado, e desta forma, três dos quatro batalhões britânicos foram atingidos e destruídos em poucos minutos. Sofreram 76% de baixas. Em 1.648 homens tiveram 319 mortos, 460 feridos e 479 desaparecidos, a maioria prisioneiros. Dos 880 homens da cavalaria francesa e polaca, caíram cerca de 200 (Muir, p. 135). Só o quarto batalhão conseguiu formar um quadrado a tempo.

As tropas portuguesas em Albuera

As tropas portuguesas em Albuera – infantaria, cavalaria e artilharia – representavam 29% das forças presentes. Os Britânicos representavam 30% e os Espanhóis 41%. Estas proporções explicam, em parte, os receios de Beresford.

Infantaria

A Infantaria portuguesa presente em Albuera consistia em uma Divisão e duas Brigadas, um total de 9.131 baionetas, ou seja, 30% de toda a infantaria presente. No final, tinha sofrido 375 baixas (99 mortos, 250 feridos e 26 desaparecidos/capturados) o que representou 9,2% do total de baixas dos Aliados. Estava distribuída da seguinte forma:


Mapa da Batalha de Albuera (1)
in  
http://ab.dip-caceres.org/g_independencia/grab_mapas.htm

Divisão de Infantaria sob o comando do Marchal de Campo John Hamilton, constituída por oito batalhões de infantaria pertencentes, cada conjunto de dois, aos seguintes regimentos: Infantaria 2, Infantaria 4, Infantaria 10 e Infantaria 14, um total de 4.819 baionetas. Esta Divisão sofreu cerca de 21% das baixas portuguesas.

9ª Brigada de Infantaria, sob o comando do Brigadeiro William Moundy Harvey, era constituída por quatro batalhões de infantaria pertencentes aos regimentos de Infantaria 11 e Infantaria 23 (dois batalhões de cada) e o 1º Batalhão da Leal Legião Lusitana que, por portaria de 4 de Maio de 1811, passou a constituir o Batalhão de Caçadores 7. Ao todo constituía uma força de 2.927 baionetas. Esta brigada estava integrada na 4ª Divisão de Infantaria Britânica, sob o comando do Major-general Galbraith Lowry Cole. Foram as tropas desta brigada que maiores baixas sofreram, especialmente Caçadores 7, quando se deu o contra-ataque efectuado pela 4ª Divisão. Caçadores 7 sofreu 84% (171) do total (203) das baixas da Brigada e 45,6% de todas as baixas da infantaria portuguesa (375).

Mapa da Batalha de Albuera (2),
in  
http://ab.dip-caceres.org/g_independencia/grab_mapas.htm

10ª Brigada de Infantaria, sob o comando do Coronel Richard Collins, era constituída por dois batalhões do Regimento de Infantaria 5 e por Caçadores 5, um total de 1.385 baionetas. Esta Brigada só foi empenhada na fase final da batalha e acabou por sofrer 91 baixas (15 mortos, 65 feridos e 11 desaparecidos/capturados), 24% das baixas da infantaria portuguesa. 

Cavalaria

O corpo de cavalaria portuguesa presente em Albuera estava sob o comando do Coronel Loftus William Otway e compunha-se de 849 sabres pertencentes aos regimentos de Cavalaria 1, Cavalaria 5, Cavalaria 7 e Cavalaria 8. Colocado na ala esquerda do dispositivo de Beresford, como guarda de flanco, manteve-se nessa missão até ao fim da batalha. Constituía 22% de toda a cavalaria dos Aliados. O seu empenho foi, portanto, longe dos combates que decidiram a batalha e apenas sofreram dois feridos.

Artilharia

A artilharia portuguesa estava presente com duas Baterias, uma do Regimento de Artilharia 1, sob o comando do Capitão S. J. de Arriaga, outra do Regimento de Artilharia 2, sob comando do Capitão W. Braun. Somavam 221 homens, constituíam 1/4 das bocas de fogo do exército de Beresford e estavam sob o comando geral do Major Alexander Dixon..Durante os combates sofreram 10 baixas.


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Extracto de um poema de Lord Byron, Childe Harold's Pilgrimage, canto 1, XLIII

Oh, Albuera! glorious field of grief!
As o'er thy plain the Pilgrim prick'd his steed,
Who could foresee thee, in a space so brief,
A scene where mingling foes should boast and bleed!
Peace to the perish'd! may the warrior's meed
And tears of triumph their reward prolong!
Till others fall where other chieftains lead,
Thy name shall circle round the gaping throng,
And shine in worthless lays, the theme of transient song.

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Para uma grande parte dos militares portugueses presentes esta foi a sua primeira experiência de combate. Em seguida, recomeçou o cerco de Badajoz.

Para os que dominam o Inglês recomendam-se as páginas seguintes que contém muita informação importante:

Trophies of Albuera (May 16, 1811)



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